Gepubliceerd op: zondag 1 juli 2012

Vertaallab 24 Márcio-André – Poemas

Vertaallab is een serie op Ooteoote die dichters uit andere taalgebieden aan de lezer voorstelt. Elke aflevering minstens één gedicht. Dat u mag vertalen, als u wilt. Graag zelfs, wat ons betreft. Post uw Nederlandse vertaling van één of meer van de onderstaande gedichten als reactie op dit bericht.

 

 

*

 

poderia ter nascido em cada cidade do mundo
xxxxxxcom uma roupa diferente
xxxxxxem uma casa diferente
e poderia ter tido
xxxxxxos mesmos amigos com outros nomes
e falar tudo outra vez
xxxxxxem diferentes línguas
e chegar àquele mesmo instante
xxxxxxvindo de distintas trajetórias:
xxxxxxhá tantos
infinitos dentro do infinito
e tantos nomes para a infinita possibilidade
xxxxxxde ser quem se é
que o infinito não se reduz a semântica de infinito:
xxxxxxpor mais distantes
os lugares permanecem lá
xxxxxxà espera
do jeito que sempre foram
xxxxxxna nervura luminosa da noite
suportando em si a mecânica de se vivê-los

 

 

xxxxxxtão poderosa
luz da planta esta
xxxxxxali em frente a casa que
xxxxxxem certo aspecto
xxxxxxera a planta ali em frente a casa
nela dia e noite alternados
xxxxxxcomo se uma só coisa
xxxxxxantimatéria de si mesma
xxxxxxa casa solar quase maior
ante o avesso não guardado em cada não
xxxxxxcomo se nada negado ao nada:
e falamos planta mastigando planta
xxxxxxpois tudo tem verdura em si
por pura negação:
xxxxxxesta maquina pensante
xxxxxxtornando coisa vegetal
xxxxxxe suave
xxxxxxo que extrai da pele do sol:
toda matéria é leve quando dita levemente

 

 

um cão em cada cão
xxxxxxali um ser
xxxxxxno intervalo dos pêlos
xxxxxxseguindo pelo canal
xxxxxxde uma alameda em realengo:
em estado de cão o cão fareja os canteiros
xxxxxxpelo perfume metálico do sangue
xxxxxxlambendo-se por descuido
ante o sonho rasteiro de todo idioma
xxxxxxentre todas as línguas
xxxxxx– e nenhuma delas –
xxxxxxe outra alegria que
xxxxxxnão a mesma da do homem:
em parte alguma nada
xxxxxxestá protegido de si mesmo
xxxxxxdesde o nascimento
xxxxxxtraz a história
xxxxxxa cumprir-se em si pelos anos:
cada dia é uma desculpa para manter-se vivo
xxxxxxadornando uma praça
xxxxxxdo subúrbio
xxxxxxestrangeiro até do espaço:
o cão é um surto do latido
xxxxxxum cão é apenas um cão

 

 

xxxxxxo coração da mosca
xxxxxxnão cabe no carrapato
xxxxxxé mais denso
e leva materiais de outra natureza
na mecânica tão precisa
xxxxxxnão cabe sentimentos
xxxxxxnão cabe um deus
xxxxxxe nem o nome de um deus
não compreende
xxxxxxalém do próprio mecanismo
xxxxxxe o desencontro
xxxxxxde seus dois mundos:
geringonça doméstica movida à corda
xxxxxxsem desenho compreensível
xxxxxxmosca verde emprenhando pedras
traçando na luz a sequência do voo
e essa é toda a ciência da vida
xxxxxxexistência magnética mal pensada
xxxxxxe fora dela – ainda mosca –
ao ser ideia e proteínas somente
– e por inteira:
xxxxxxsabemos da mosca
pelo que inferimos do pouso
xxxxxxe a adoramos como divindade menor
xxxxxxpor amar nossa merda
indo além do pensamento e do tempo
xxxxxxapanhar delas a virtude
tão simples quanto pedras:
xxxxxxmosca
é o som radiante de uma palavra:
xxxxxxsonho sonhado no intervalo
xxxxxxdas falas

 

 

____

Márcio-André (Rio de Janeiro, 1978) is dichter, klank- en beeldkunstenaar. Van hem verschenen de dichtbundels Cazas (Dulcineia Catadora, 2011) en Intradoxos (Confraria do Vento, 2007) en twee essaybundels. Hij maakte installaties en performances voor festivals in meer dan tien landen. Vorige week was hij te gast op Poetry International 2012.
Márcio-André woont en werkt in Lissabon.

foto auteur ©2012 Fernando Branquinho

Over de auteur

- Rozalie Hirs is redacteur van de LL-serie (Lage Landen-serie) en Vertaallab op Ooteoote. Daarnaast is zij dichter van boeken en digitale media. Zie ook www.rozaliehirs.nl.

Displaying 1 Comments
Have Your Say
  1. Ik zou in elke stad in de wereld geboren kunnen zijn
    met andere kleren
    in andere huizen
    en zou dezelfde vrienden
    met andere namen hebben gehad
    en in andere talen
    over steeds dezelfde dingen praten
    en op hetzelfde moment aankomen
    vanuit een andere invalshoek:
    er zijn zoveel oneindigheden
    binnenin het oneindige
    en zoveel namen voor de oneindige mogelijkheid
    om te zijn wie we zijn
    dat het oneindige niet kan worden herleid tot enkel het woord “oneindig”:
    hoewel op afstand
    de plaatsen gewoon blijven bestaan
    als standby
    zoals ze altijd waren
    in de zichzelf verlichtende ribbel van de nacht
    die in zichzelf het mechanisme bezit voort te leven

    (translated partly from English –
    DRAFT translation in Dutch)